sábado, 21 de junho de 2025

O Indiferentismo Religioso


“Dessa fonte enjosada do indiferentismo mana aquela sentença absurda e errônea ou, melhor dizendo, loucura, que afirma e defende a todo custo e para todos, a liberdade de consciência. Este erro pestilente abre caminho, protegido na liberdade de opiniões imoderada que, para a ruína da sociedade religiosa e da civil, se estende cada dia mais por todos os lugares, chegando a impudência de alguns a assegurar que dela se segue grande benefício para a causa da religião. E que pior morte para a alma do que a liberdade do erro! Dizia Santo Agostinho” – Sua Santidade Gregório XVI, encíclica Mirari Vos

A liberdade religiosa corresponde ao termo liberdade na Revolução Francesa. É um termo ambíguo muito útil para o diabo.

Este termo nunca foi compreendido no sentido que o Concílio admite. Todos os documentos anteriores da Igreja que falam de liberdade religiosa entendem por isso a liberdade da religião e nunca a liberdade das religiões. Sempre que a Igreja falou dessa liberdade, falou da liberdade da religião e da tolerância para com as outras religiões. O erro é tolerado. Dar-lhe liberdade é dar-lhe um direito e o erro não tem nenhum. Só a verdade tem direitos. Admitir a liberdade de religiões é dar os mesmos direitos à verdade que ao erro. Isso é impossível. A Igreja nunca pode dizer tal coisa. Na minha opinião, ousar dizer isso é blasfema. Vai contra a glória de Deus, pois Deus é a verdade, Jesus Cristo é a verdade. Colocar Jesus Cristo no mesmo plano que um Maomé ou um Lutero, o que é senão blasfemar? Se temos fé, não temos o direito de admitir isso; é o erro de direito comum que foi condenado por Pio IX e todos os papas.

Com a liberdade religiosa penetrou no Concílio no sentido do termo liberdade segundo a Revolução Francesa.

Considero que o “Cavalo de Tróia” destinado a realizar esta operação contra o Magistério tradicional da Igreja é o esquema inconcebível da “liberdade religiosa”. Admitido este, todo o vigor e todo o valor do Magistério da Igreja caem feridos de morte de uma maneira radical, pois em si o magistério é contrário à liberdade religiosa.

O Magistério impõe sua Verdade, obriga moralmente o sujeito a aceitá-la, priva-o, portanto, de sua liberdade moral. Sem dúvida, sua liberdade psicológica permanece, mas a possibilidade de recusar o ensino não lhe dá, por si só, o direito de recusá-lo. Deve acreditar sob pena de condenação contrária à liberdade.

É dar provas de grande ignorância ou fingir essa ignorância, não querer reconhecer que todas as religiões, exceto a verdadeira, a religião católica, trazem consigo um cortejo de tarefas sociais que são a vergonha da humanidade: pense no divórcio, na poligamia, na contracepção e no amor livre no que diz respeito à família; pense também, no terreno da própria existência da sociedade, nas duas tendências que a destroem: uma tendência revolucionária, destrutiva da autoridade, tendência demagógica, fermento de contínuos desordens, fruto do livre exame, ou uma tendência totalitária e tirânica graças à união da falsa religião com o Estado. A história dos últimos séculos ilustra de forma contundente esta realidade.

É, portanto, inconcebível que os governos católicos se desinteressem pela religião ou que admitam por princípio a liberdade religiosa em terreno público. Seria não ver o fim da sociedade e a extrema importância da religião no terreno social e a diferença fundamental entre a verdadeira religião e as demais no terreno da moral, elemento capital para a obtenção do fim temporal do Estado.

Tal é a doutrina ensinada desde o fim na Igreja. Confere à sociedade um papel capital no exercício da virtude dos cidadãos e, portanto, de forma indireta, na obtenção de sua salvação eterna. Toda criatura foi e ainda está ordenada para esse fim aqui embaixo. As sociedades, família, Estado, Igreja, cada uma em seu posto, foram criadas por Deus com esse fim. Não se pode negar que, de fato, a experiência da história das nações católicas, a história da Igreja, a história da conversão à Fé Católica, manifesta o papel providencial do Estado a tal ponto que se deve afirmar legitimamente que seu papel na obtenção da salvação eterna da humanidade é capital, se não preponderante. Se todo o aparato e o condicionamento social do Estado é secular, ateu, irreligioso e ainda mais se for perseguido pela Igreja, quem ousará dizer que será fácil para os não católicos se tornarem e Para os católicos continuarem sendo? Mais do que nunca agora, com os meios modernos de comunicação social, com as relações sociais que se multiplicam, o Estado tem uma influência cada vez maior sobre o comportamento dos cidadãos ou sobre sua vida interior e exterior, consequentemente sobre sua atitude moral, e em última análise sobre seu destino eterno.

Seria criminoso encorajar os estados católicos a tornarem-se leigos, a despreocupar-se com a religião e a deixar-se difundir indiferentemente no erro e na imoralidade e, sob o falso pretexto da dignidade humana, introduzir um fermento solvente da sociedade com uma liberdade religiosa exagerada, com a exaltação da consciência individual à custa do bem comum como na legitimação da objeção de consciência.

+ Monsenhor Marcel Lefebvre

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