A verdadeira teologia, como ciência que é da fé e dos costumes cristãos, está submersa nas virtudes teologais da fé e da caridade. Respira uma atmosfera sobrenatural. Nunca perde o contato com a fé e com a caridade. Não é uma ciência dividida em distintos gêneros ou espécies, como a filosofia ou as ciências humanas. É uma irradiação e participação formal da própria ciência de Deus, que não se divide nem se fragmenta, mas que abarca tudo em sua unidade transcendente.
O dogma e a moral, a ascética e a mística, a patrística e a pastoral, a exegese e a simbólica, são uma e única teologia específica. A teologia supera e transcende as categorias das ciências puramente humanas e naturais. Não é propriamente especulativa nem prática, mas antes contemplativa e afetiva ao mesmo tempo, per modum unius, fundindo-se nela conhecimento e vida.
A vitalidade da teologia, como a vitalidade da fé teologal, é mais para cima, para Deus, para a vida eterna da qual é antecipação e reflexo, do que para baixo, para a vida terrestre e animal em que de fato gememos, salvo para nos ensinar a sobrenaturalizá-la e divinizá-la. E o mesmo ocorre com o conhecimento.
Usa como instrumento e como trampolim todas as ciências humanas, embora não tomadas em bruto, conforme saem das pedreiras ou das fontes dos filósofos e dos sábios, mas elaboradas e destiladas em seus próprios laboratórios e refinarias, onde lhes é dado o sentido de Deus, de Cristo, da fé. Por isso não se embarca em qualquer filosofia, antiga ou moderna, mas somente na filosofia cristã, na filosofia segundo Cristo, como a chamava belamente Bento XV (Motu proprio Non multo post, de 31 de dezembro de 1914. AAS. 7 [1915], 6-7).
O verdadeiro teólogo, tal como o descreve o Concílio Vaticano, levando sempre à frente a tocha da fé, busca a inteligência e a explicação dos mistérios que ela nos propõe, com diligência, com piedade e com sobriedade (sedulo, pie et sobrie). Para isso, emprega fundamentalmente dois caminhos: um, a comparação de uns mistérios com outros e com o fim último do homem, no qual todos convergem; outro, a comparação desses mesmos mistérios com as verdades da ordem natural solidamente estabelecidas, como de outras tantas analogias, que nos permitem vislumbrá-los de algum modo (Denz., n. 1796). Mas sem nunca perder o sentido do mistério, nem pretender compreendê-los perfeitamente. Essa visão clara e plena não pertence à teologia desta vida, mas àquela que lhe sucede no céu.
A vitalidade da teologia, como a de todos os seres viventes, não consiste em afastar-se de suas fontes e princípios, mas em não se separar deles, em estar sempre em contato com eles, em beber e alimentar-se deles a boca cheia. As ciências não devem jamais perder o contato com a experiência, que é sua fonte; a história deve manter sempre o olhar fixo no documento que lhe dá o ser; a filosofia necessita voltar sempre à água cristalina de seus princípios para não morrer de sede. A teologia igualmente necessita alimentar-se de seus princípios e saturar-se deles.
E esses princípios e fontes da autêntica teologia são as verdades, os artigos da fé, contidos nas Sagradas Escrituras e na Tradição divina, e propostos infalível e autenticamente pelo Magistério vivo da Igreja. O princípio vital da teologia está na revelação divina, na fé; não na razão humana, nem nas ciências ou na filosofia por ela inventada.
Por isso, a teologia digna de tal nome tem mais de divina do que de humana, mais de fé do que de razão, mais de iluminação ou irradiação da ciência de Deus do que de ilustração da ciência dos homens, isto é, da filosofia em seu sentido mais amplo. A própria teologia escolástica, tão desprezada e caluniada pelos novos teólogos, possui marcadamente esse caráter divino e sobrenatural, sobretudo em seus principais representantes, como um São Alberto Magno, um São Tomás de Aquino e um São Boaventura.
A Nova Teologia, pelo contrário, inverteu os valores, indo a reboque de algumas modernas e falsas filosofias, e descristianizando-se com elas, depois de abandonar as verdadeiras fontes da autêntica teologia. É uma trágica ironia chamar teologia viva e renovada àquela que, separando-se de seu princípio vital, caminha pelas sendas da morte.
Santiago Ramírez, O.P., Teología Nueva y Teología, pp. 35-38.