sábado, 2 de agosto de 2025

Os materialistas e os doidos

 


Devemo-nos lembrar que a filosofia materialista (verdadeira ou não) é muito mais limitadora do que qualquer religião. É certo que, em determinado sentido, todas as idéias inteligentes são estreitas: não podem ser mais largas do que elas próprias. Um cristão é tão limitado quanto um ateu. O cristão não poderá julgar o cristianismo falso e continuar a ser cristão. O mesmo ocorre com um ateu. Acontece, porém, que há um sentido muito especial no qual o materialismo tem maiores restrições do que o espiritualismo. Mc Cabe julga-me um escravo porque não posso acreditar no determinismo, e eu julgo Mc Cabe um escravo porque ele não pode acreditar em fadas. Examinando, porém, os dois vetos, verificaremos que o dele é, realmente, muito mais proibitivo do que o meu. O cristão tem plena liberdade de acreditar que existe no Universo uma ordem estabelecida e um inevitável desenvolvimento, mas o materialista não pode admitir, na sua irrepreensível máquina, a menor parcela de espiritualismo ou de milagre. O pobre Mc Cabe não poderá admitir o menor diabinho, nem que ele esteja escondido numa pimpinela. O cristianismo admite que o Universo é multiforme e, por vezes, misto, exatamente como o homem normal admite a própria complexidade. O homem são sabe, perfeitamente, que há em si qualquer coisa de animal, de demônio, de santo e de cidadão, chegando mesmo a admitir, quando é verdadeiramente são, que há em si alguma coisa de louco. Mas o mundo do materialista é perfeitamente simples e sólido, exatamente como o louco está convencido de que é uma criatura perfeitamente sã. O materialista julga que a história tem sido, simples e unicamente, uma cadeia de causalidade, como aquele interessante indivíduo, a quem há pouco nos referimos, que estava convencido de que era, simples e unicamente, um verdadeiro frango. Os materialistas e os doidos nunca têm dúvidas.

G. K. Chesterton, Ortodoxia, LTr, 2001, pág. 41-42

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